segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Vaga de Dor

Acendo a luz numa mesa que fica ao lado da cama de solteiro.
Julgava que estavas lá, mas a mente tem destas coisas,
como se nos saltasse em cima e com um sapato de salto
nos penetra no ouvido e esmaga-nos o equilíbrio.
É uma coisa perigosa, a mente, faz-nos julgar,
julgar que amamos,
que sonhamos
e que, enfim, realizamos tudo o que sonhamos e amamos.

É escusado dizer que nesse lado da cama
só está uma noite mal dormida, pontas de cigarros
e que paira um cheiro a sexo no ar.
Nestes lençóis lavados, marcamos o nosso compasso de espera.
Num quarto de hotel, na casa de um amigo. Nunca na nossa, nunca na tua.

E o sapato de salto continua a enterrar-se carne adentro.

E o segundo penetra, encaixa-se entre a verdade e a mentira.
entre o desejo e o medo
entre o sonho e a realidade.
A cama continua vazia e o medo instala-se
Vou à janela, vejo pessoas.
Vejo caras, caras desfocadas, vazias, esperando a última pincelada de um Deus qualquer.
Esse Deus que não existe, que morreu.
Essa forma de pessoa que temos a tendência de evocar quando tudo desaba, quando a ponta do sapato já está no lugar que tu quiseste que ela estivesse.

Não tem importância, é tudo um sonho.

Acendo a luz numa mesa que fica ao lado da cama de solteiro.