terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A- Apetece-me escrever?
B- O quê?
A- Não sei, apetece-me?
B- Estás parvo? Escrever? Agora?
A- Não há hora para escrever, é uma coisa que se faz naturalmente!
B- Hum… Não sei.
A- Escrevo o quê?
B- Não sei, é a ti que te apetece escrever.
A- Pois, mas podias ajudar.
B- Podia, mas não quero estragar tudo.
A- Não digas isso, tu ajudas-me!
B- Não quero!
A- Por favor!
B- Não!
A- Vem escrever!
B- Não me apetece.
A- Vá lá. Por mim sim?
B- Deixa-me!
A- Porque é que ficas assim?
B- Não sei, não quero escrever.
A- És bruto!
B- Não me fales em escrever.
A- Está bem, não te falo em escrever.
B- Não, fala-me em escrever. Acho que preciso.
A- Agora não quero.
B- Mais tarde?
A- Talvez.
B- Lê um dos teus poemas.
A- Qual?
B- Não sei. Mas lê, para mim, como se mais nada existisse no mundo. E pensa. Sim! Pensa que estás num campo, e que nesse campo é tudo verde, e que esse campo tem o cheiro do orvalho, aquele que quando acordamos fica na nossa roupa, depois de dormirmos ao relento na montanha, e continua a ler. Estás a ler?
A- Não. Estou a pensar.
B- Em quê?
A- Não sei, acho que num campo. Verde.
B- Gosto da ideia. Cheira a orvalho?
A- Sim. Aquele que quando acordamos fica na nossa roupa, depois de dormirmos ao relento na montanha.
B- Canta-me uma canção.
A- Está bem.
B- Que canção?
A- Não sei.
B- Não quero que tenha letra, apenas uma melodia. E pode ser de embalar.
A- Está a tornar-se difícil.
B- Pensa.
A- Está bem, espera um pouco.
B- Já está?
A- Não.
B- Já está?
A- Não sei.
B- Falta pouco?
A- Penso que já tenho uma ideia.
(canta a canção que embalar)
B- Sim, era essa que estava a pensar.
A- Obrigado.
B- De nada.
A- Posso deitar a cabeça no teu ombro?
B- Sim, está bem.
A- Posso abraçar-te?
B- Penso que não há problema.
A- Obrigado.
B- Também vou dormir um pouco.
A- Até amanhã.

Paris adormece, duas crianças cobertas por dois casacos rotos, extremamente antigos e porcos como o chão das ruas, também adormecem com Paris. Num sono muito mais vasto, num sonho muito mais profundo, num dormir muito mais silencioso. Passam dois indivíduos.

Paris acorda, duas crianças iguais às anteriores, não acordam com Paris. Pois o sono continuará a ser vasto, o sonho será profundo e o dormir silencioso. Está uma folha rabiscada entre as crianças, encontrava-se desenhado uma casa com duas crianças e dois progenitores. A multidão passa.

3 comentários:

m disse...

As i said, a parte da narrativa tem pano para mangas (mesmo!) e a partir daí muitos belos textos, como só tu sabes escrever, podem surgir. É bom ler-te. Mesmo! É mais que pureza.

Beijo, amiguinho ****

Sandra disse...

UAUUU! Mui bien Mr pimi :D tá muito bom, mesmo!!

beijinho

Nada disse...

Gostei do que li...tens uma escrita boa de se ler...suave!

Boa semana*